13.9.06
O Terrorismo Moderno - Sua Percepção no Ocidente
Tivemos, ontem, no debate da TV, no programa «Prós e Contras» da RTP1, a oportunidade de apreciar a confrontação de dois modos de encarar, no Ocidente, o problema do terrorismo moderno de inspiração religiosa islâmica e o seu necessário combate.
De um lado, digamos, pró-americano, representado por José Pacheco Pereira, observámos a percepção mais objectiva do fenómeno, que toma o terrorismo islâmico na sua correcta dimensão, entendendo-o como ameaça global ao nosso modo de viver ocidental.
Do outro, atribuído, por assim dizer, a Mário Soares, ali reencontrado na sua versão outra vez juvenil, deparou-se-nos a visão do problema, na óptica anti-americana, anti-globalização, anti-imperialista, um pouco socialista, não muito, claro, apenas q.b., naquele grau compatível com o discreto charme da burguesia, de piedosos sentimentos, mas de práticas sociais inconsequentes, como era uso dizer-se, num antigo dialecto político muito do agrado de velhos confrades e amigos de Soares.
Para o primeiro, JPP, sem querer admitir a existência de um choque de civilizações, ainda assim, denominando-o de cultural, o problema é sério e como tal deve ser encarado, sem cedências despropositadas, que possam ser mal entendidas. Por isso mesmo, estima e apoia o esforço americano no actual conflito, apesar dos erros cometidos quanto ao modus operandi gizado por Bush e seus conselheiros.
Já para Mário Soares, tudo o que presentemente vem dos EUA lhe parece de rejeitar, incluindo a firmeza com que estes pretendem lutar contra o terrorismo. E logo desata um rol de desacertos, de erros estratégicos e tácticos, de actuação, etc., a que acrescenta a total falta de credibilidade intelectual e moral do seu líder, George W. Bush, para empreender essa imensa luta global, em nome do Ocidente.
Convenhamos que, neste último ponto, terá MS alguma razão. Como deixou escrito o nosso excelso Camões : « Um fraco rei faz fraca a forte gente... ». Este membro do clã Bush, de facto, não inspira a desejada confiança, não parecendo ter qualificação para desempenhar cargos de elevada responsabilidade política, muito menos, para estar à cabeça dos destinos da grande potência que são os EUA, assoberbada com a sua não enjeitada tarefa de polícia do Mundo, sempre vigilante e actuante contra tantas e tão diversas perversidades que constantemente o ameaçam.
É, notoriamente, encargo demasiado para tão escasso talento perceptível em Bush, embora não se negue o seu acertado propósito em questões pontuais, principalmente quando interpreta correctamente os sinais da conspiração islâmica fundamentalista anti-ocidental, para usar uma expressão cómoda, ainda que algo imprecisa.
Mário Soares, que se péla por debates, aparentou boa forma física e muito razoável disposição mental. Se nos lembrarmos dos seus quase 82 anos, teremos de nos admirar e forçosamente considerá-lo em excelente forma geral.
É de louvar que ainda manifeste tanto gozo em participar em debates e neles seja capaz de exprimir opiniões contrárias ao senso dominante, mesmo se se coloca do lado aparentemente errado da trincheira, numa época em que muitos só manifestam a sua opinião depois de ouvirem a dos supostos mandantes ou influentes, depois de, cautelosamente, haverem determinado o lugar geométrico das vozes de um qualquer poder em exercício.
Sempre eu apreciarei gente que ouse pensar pela sua própria cabeça e não se iniba de expressar o seu pensamento, independentemente de estar ou não com a razão ou de eu discordar dos seus pontos de vista. Decerto que é preferível não cometer erros de juízo, cometer poucos ou raramente os cometer. Mas quem se pode arrogar ter tido sempre razão, sobretudo quando se levou uma vida de intervenção frequente no combate político, arena mais que insegura, para exibir imaginados modelos de coerência ?
Todavia, no caso presente, MS deixou-se, mais uma vez, cegar pela sua irreprimível vaidade, pelo seu inveterado narcisismo de ribalta, pretendendo que continuamente o vejamos como uma espécie de D. Quixote redivivo, arremetendo contra o, agora, abominável gigante americano.
Vimo-lo ontem, porém, algo surpreendentemente, dando guarida a teses de extrema vulnerabilidade, como a da luta contra a pobreza, como forma de combater o terrorismo islâmico, a da necessidade do diálogo com Bin Laden e seus deputados, a equiparação do fanatismo muçulmano ao suposto fundamentalismo cristão existente nos EUA, em particular, e no Ocidente, em geral, de que Bush seria o mais dementado e tenebroso arauto, apesar da condição de inequívoco laicismo, do acentuado laxismo moral e até a mais do que tolerada licensiosidade das sociedades ocidentais, tudo características que desmentem tão absurda equiparação.
No seu delirante afã anti-americano ou anti-Bush, se lhe aceitarmos essa magna distinção, MS chega a perfilhar, parcialmente, pelo menos, a tese da conspiração, segundo a qual teriam sido os próprios americanos a organizar os ataques terroristas do 11 de Setembro de 2001, em Nova Iorque, supõe-se que também os de Madrid, em 2004, e os de Londres, em 2005, para depois poderem justificar melhor a guerra pelo controlo e saque do petróleo no Médio-Oriente, etc., etc.
Custa a crer que um homem tão experimentado, tão mundano, como ele nunca se cansa de no-lo recordar, invocando sistematicamente os seus altos e extensos contactos com figuras cimeiras da Política Internacional, se deixe atrair por argumentos tão frágeis. Cabe observar até onde pode levar a descontrolada obsessão anti-americana.
De caminho, ficámos também a saber que MS sempre considerou Tony Blair um mero bluff, não passando, afinal, de solícito serventuário dos interesses norte-americanos, manifestando antes preferência pelo jovem e guapo Primeiro- Ministros ocialista espanhol, José Luís Zapatero ou mesmo pelo nosso elegante PM, José Sócrates, igualmente socialista, de discurso ligeiro, mas despachado, em contraposição àquele desnaturado britânico que tão nefasta influência exerceu no nosso bem intencionado ex-PM, António Guterres, homem de vocação mais claramente cristã, missionária ou caritativa, que propriamente socialista, para o seu gosto pessoal.
Tudo isto MS foi dizendo ou insinuando, sempre a coberto de uma deferência de tratamento que não encontra paralelo em nenhuma outra figura política portuguesa presente ou passada. Na verdade, bons deuses fadaram MS, porque, praticamente, todos lhe relevam os erros, os deslizes, as trapalhadas, os desconcertos, ao mesmo tempo que lhe enaltecem as mais pequenas virtudes. Assim, vale a pena namorar com a Comunicação Social. Será sempre amor bem correspondido, retribuído até em dobrado.
Foi, no entanto, pena não terem dado mais tempo de intervenção a Helena Matos, porque esta desinibida mulher, na sua breve exposição, demonstrou clarividência na percepção do problema.
Sem receio de expor o seu pensamento, HM chamou a atenção para o que se passa com os muçulmanos de 2ª geração, nados e criados aqui, na nossa mui liberal Europa, com acesso ilimitado à informação, usufruindo do seu Ensino, dos Serviços de Saúde, da Segurança Social e demais bens colectivos do típico conforto europeu, mas que, não obstante, declaram sentir-se, primeiro que tudo, islâmicos, apesar de os seus Bilhetes de Identidade, os seus Passaportes, de todos os seus documentos atestarem a sua legítima condição de Europeus. Excelente integração, esta. Realmente, dela todos nos podemos orgulhar !
Infelizmente, direi melhor, incompreensivelmente, o pensamento de Helena Matos, como o de Pacheco Pereira, no que concerne ao conflito com a mentalidade fundamentalista islâmica, a única do universo muçulmano que se faz ouvir, permanece, entre nós, largamente minoritário, concedendo-se assim amplo espaço à doutrinação do ódio contra o nosso estilo de vida, imperfeito e, em muitos aspectos, altamente criticável, sem dúvida, mas infinitamente preferível aos sonhados paraísos que mentes profundamente alienadas e terrivelmente obscurantistas, de modo persistente, militantemente, nos pretendem impingir, cada vez com maior despudor.
Acaso conseguirão os seus intentos ?
Convém meditar nisto, enquanto é tempo. Já houve tragédias que começaram por menos…
AV_Lisboa, 12 de Setembro de 2006
De um lado, digamos, pró-americano, representado por José Pacheco Pereira, observámos a percepção mais objectiva do fenómeno, que toma o terrorismo islâmico na sua correcta dimensão, entendendo-o como ameaça global ao nosso modo de viver ocidental.
Do outro, atribuído, por assim dizer, a Mário Soares, ali reencontrado na sua versão outra vez juvenil, deparou-se-nos a visão do problema, na óptica anti-americana, anti-globalização, anti-imperialista, um pouco socialista, não muito, claro, apenas q.b., naquele grau compatível com o discreto charme da burguesia, de piedosos sentimentos, mas de práticas sociais inconsequentes, como era uso dizer-se, num antigo dialecto político muito do agrado de velhos confrades e amigos de Soares.
Para o primeiro, JPP, sem querer admitir a existência de um choque de civilizações, ainda assim, denominando-o de cultural, o problema é sério e como tal deve ser encarado, sem cedências despropositadas, que possam ser mal entendidas. Por isso mesmo, estima e apoia o esforço americano no actual conflito, apesar dos erros cometidos quanto ao modus operandi gizado por Bush e seus conselheiros.
Já para Mário Soares, tudo o que presentemente vem dos EUA lhe parece de rejeitar, incluindo a firmeza com que estes pretendem lutar contra o terrorismo. E logo desata um rol de desacertos, de erros estratégicos e tácticos, de actuação, etc., a que acrescenta a total falta de credibilidade intelectual e moral do seu líder, George W. Bush, para empreender essa imensa luta global, em nome do Ocidente.
Convenhamos que, neste último ponto, terá MS alguma razão. Como deixou escrito o nosso excelso Camões : « Um fraco rei faz fraca a forte gente... ». Este membro do clã Bush, de facto, não inspira a desejada confiança, não parecendo ter qualificação para desempenhar cargos de elevada responsabilidade política, muito menos, para estar à cabeça dos destinos da grande potência que são os EUA, assoberbada com a sua não enjeitada tarefa de polícia do Mundo, sempre vigilante e actuante contra tantas e tão diversas perversidades que constantemente o ameaçam.
É, notoriamente, encargo demasiado para tão escasso talento perceptível em Bush, embora não se negue o seu acertado propósito em questões pontuais, principalmente quando interpreta correctamente os sinais da conspiração islâmica fundamentalista anti-ocidental, para usar uma expressão cómoda, ainda que algo imprecisa.
Mário Soares, que se péla por debates, aparentou boa forma física e muito razoável disposição mental. Se nos lembrarmos dos seus quase 82 anos, teremos de nos admirar e forçosamente considerá-lo em excelente forma geral.
É de louvar que ainda manifeste tanto gozo em participar em debates e neles seja capaz de exprimir opiniões contrárias ao senso dominante, mesmo se se coloca do lado aparentemente errado da trincheira, numa época em que muitos só manifestam a sua opinião depois de ouvirem a dos supostos mandantes ou influentes, depois de, cautelosamente, haverem determinado o lugar geométrico das vozes de um qualquer poder em exercício.
Sempre eu apreciarei gente que ouse pensar pela sua própria cabeça e não se iniba de expressar o seu pensamento, independentemente de estar ou não com a razão ou de eu discordar dos seus pontos de vista. Decerto que é preferível não cometer erros de juízo, cometer poucos ou raramente os cometer. Mas quem se pode arrogar ter tido sempre razão, sobretudo quando se levou uma vida de intervenção frequente no combate político, arena mais que insegura, para exibir imaginados modelos de coerência ?
Todavia, no caso presente, MS deixou-se, mais uma vez, cegar pela sua irreprimível vaidade, pelo seu inveterado narcisismo de ribalta, pretendendo que continuamente o vejamos como uma espécie de D. Quixote redivivo, arremetendo contra o, agora, abominável gigante americano.
Vimo-lo ontem, porém, algo surpreendentemente, dando guarida a teses de extrema vulnerabilidade, como a da luta contra a pobreza, como forma de combater o terrorismo islâmico, a da necessidade do diálogo com Bin Laden e seus deputados, a equiparação do fanatismo muçulmano ao suposto fundamentalismo cristão existente nos EUA, em particular, e no Ocidente, em geral, de que Bush seria o mais dementado e tenebroso arauto, apesar da condição de inequívoco laicismo, do acentuado laxismo moral e até a mais do que tolerada licensiosidade das sociedades ocidentais, tudo características que desmentem tão absurda equiparação.
No seu delirante afã anti-americano ou anti-Bush, se lhe aceitarmos essa magna distinção, MS chega a perfilhar, parcialmente, pelo menos, a tese da conspiração, segundo a qual teriam sido os próprios americanos a organizar os ataques terroristas do 11 de Setembro de 2001, em Nova Iorque, supõe-se que também os de Madrid, em 2004, e os de Londres, em 2005, para depois poderem justificar melhor a guerra pelo controlo e saque do petróleo no Médio-Oriente, etc., etc.
Custa a crer que um homem tão experimentado, tão mundano, como ele nunca se cansa de no-lo recordar, invocando sistematicamente os seus altos e extensos contactos com figuras cimeiras da Política Internacional, se deixe atrair por argumentos tão frágeis. Cabe observar até onde pode levar a descontrolada obsessão anti-americana.
De caminho, ficámos também a saber que MS sempre considerou Tony Blair um mero bluff, não passando, afinal, de solícito serventuário dos interesses norte-americanos, manifestando antes preferência pelo jovem e guapo Primeiro- Ministros ocialista espanhol, José Luís Zapatero ou mesmo pelo nosso elegante PM, José Sócrates, igualmente socialista, de discurso ligeiro, mas despachado, em contraposição àquele desnaturado britânico que tão nefasta influência exerceu no nosso bem intencionado ex-PM, António Guterres, homem de vocação mais claramente cristã, missionária ou caritativa, que propriamente socialista, para o seu gosto pessoal.
Tudo isto MS foi dizendo ou insinuando, sempre a coberto de uma deferência de tratamento que não encontra paralelo em nenhuma outra figura política portuguesa presente ou passada. Na verdade, bons deuses fadaram MS, porque, praticamente, todos lhe relevam os erros, os deslizes, as trapalhadas, os desconcertos, ao mesmo tempo que lhe enaltecem as mais pequenas virtudes. Assim, vale a pena namorar com a Comunicação Social. Será sempre amor bem correspondido, retribuído até em dobrado.
Foi, no entanto, pena não terem dado mais tempo de intervenção a Helena Matos, porque esta desinibida mulher, na sua breve exposição, demonstrou clarividência na percepção do problema.
Sem receio de expor o seu pensamento, HM chamou a atenção para o que se passa com os muçulmanos de 2ª geração, nados e criados aqui, na nossa mui liberal Europa, com acesso ilimitado à informação, usufruindo do seu Ensino, dos Serviços de Saúde, da Segurança Social e demais bens colectivos do típico conforto europeu, mas que, não obstante, declaram sentir-se, primeiro que tudo, islâmicos, apesar de os seus Bilhetes de Identidade, os seus Passaportes, de todos os seus documentos atestarem a sua legítima condição de Europeus. Excelente integração, esta. Realmente, dela todos nos podemos orgulhar !
Infelizmente, direi melhor, incompreensivelmente, o pensamento de Helena Matos, como o de Pacheco Pereira, no que concerne ao conflito com a mentalidade fundamentalista islâmica, a única do universo muçulmano que se faz ouvir, permanece, entre nós, largamente minoritário, concedendo-se assim amplo espaço à doutrinação do ódio contra o nosso estilo de vida, imperfeito e, em muitos aspectos, altamente criticável, sem dúvida, mas infinitamente preferível aos sonhados paraísos que mentes profundamente alienadas e terrivelmente obscurantistas, de modo persistente, militantemente, nos pretendem impingir, cada vez com maior despudor.
Acaso conseguirão os seus intentos ?
Convém meditar nisto, enquanto é tempo. Já houve tragédias que começaram por menos…
AV_Lisboa, 12 de Setembro de 2006
Comments:
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Caro amigo
Obrigado pela sua visita ao "deprofundis" e também pelos seus comentários.
Concordo inteiramente com o que diz neste seu artigo. Conotar o terrorismo com a pobreza ou opressão ou é ignorância ou má fé. Gandhi e Mandela comprovaram que há outras formas de luta menos violentas e muitíssimo mais eficazes.
Mário Soares, o maior arrivista da nossa História, para além de ser sempre muito pouco profundo, é o campeão do políticamente correcto.
Fala conforme as modas.
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Obrigado pela sua visita ao "deprofundis" e também pelos seus comentários.
Concordo inteiramente com o que diz neste seu artigo. Conotar o terrorismo com a pobreza ou opressão ou é ignorância ou má fé. Gandhi e Mandela comprovaram que há outras formas de luta menos violentas e muitíssimo mais eficazes.
Mário Soares, o maior arrivista da nossa História, para além de ser sempre muito pouco profundo, é o campeão do políticamente correcto.
Fala conforme as modas.
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